Data da publicação: 18 de novembro de 2008
Tempo de leitura: 16 minutos
Talentos
A coisa fascinante acerca do estudo de Ericsson é que ele e os seus colegas não conseguiam encontrar nenhuns “naturais”, músicos que flutuassem sem esforço até ao topo, praticando uma fração do tempo que os outros praticavam.
Nem conseguiam encontrar nenhuns esforçados, pessoas que trabalhassem mais do que toda a gente, e apenas não tinham o que era preciso para chegar ao topo.
As suas pesquisas sugerem que, assim que um músico tem capacidades suficientes para entrar numa escola de música de topo, a coisa que distingue um artista de outro é quanto se esforça. Apenas isso.
E mais, as pessoas no topo não trabalham apenas mais ou até muito mais que os outros. Trabalham muito, muito mais que os outros.
O que são dez anos? Bem, é mais ou menos quanto tempo leva a atingir dez mil horas de treino. Dez mil horas é o número mágico para a grandiosidade.
Quando tiveram a primeira rajada de sucesso em 1964, The Beatles já tinham atuado ao vivo por volta de 1200 vezes.
Num período de sete meses, em 1971, Bill Gates e os seus colegas correram 1575 horas de tempo de computador na rede ISI, o que é uma média de 8 horas por dia, 7 dias por semana. “Era a minha obsessão.” Diz Gates.
Nas décadas de 1860 e 70, a economia da América passou possivelmente pela maior transformação da sua história. Isto foi quando os caminhos de ferro estavam a ser construídos e quando a Wall Street emergiu. Foi quando todas as regras que geriam a economia tradicional foram quebradas e refeitas. O que esta lista diz é que importa a idade que tinhas quando essas transformações aconteceram.
Teste de divergência
Um jogador de basquetebol apenas tem de ser alto o suficiente – e o mesmo acontece com a inteligência. Para além de um certo ponto, a altura não interessa muito
Escreve o máximo de uso que consegues dar aos seguintes objetos:
1. Tijolo
2. Um cobertor
Isto é um exemplo do que é chamado de “teste de divergência” (Em oposição com o teste do Corvo, que te pede para escolheres de uma lista de possibilidades e convergir na resposta certa). Pede que tu uses a tua imaginação e que leves a tua mente no maior número de direções possível. Com um teste de divergência, obviamente não há apenas uma resposta correta. O que a pessoa que dá o teste procura é o número e a singularidade das tuas respostas.
Inteligência prática
Ele possuía o tipo de experiência que lhe permitia tirar o que queria do mundo. Robert Sternberg chama isto de “inteligência prática”.
Para Sternberg, a inteligência prática inclui coisas como “saber o que dizer e a quem, quando o dizer, e de que forma dizer para ter o máximo de efeito possível.
É prático na sua natureza: isto é, não é conhecimento pelo seu próprio bem. É conhecimento que te permite ler situações de forma correta e obter o que se quer.
“Eles agiram como se tivessem o direito de perseguir as suas preferências individuais e de gerir ativamente as interações em parâmetros institucionais. Eles aparentavam estar confortáveis nesses parâmetros; estavam abertos à partilha de informação e a pedir atenção…. Era uma prática comum entre crianças da classe média, mudar as interações para as preferências que lhes convinham.”
Faltava-lhes algo que lhes podia ter sido dado se se soubesse que elas precisavam: uma comunidade à sua volta que os preparasse para o mundo.
Ninguém – nem estrelas de rock, nem atletas profissionais, nem bilionários de software, nem mesmo génios – consegue fazer as coisas sozinho.
Estas pessoas tinham uma capacidade que trabalharam durante anos e que se tornou muito valiosa.
O sentido de responsabilidade que é tão necessário para o sucesso não vem só de nós nem dos nossos pais. Vem do nosso tempo: das oportunidades particulares que o nosso tempo em particular nos apresenta.
Novidades
Borgenicht levava um pequeno caderno. Para onde quer que fosse, ele escrevia o que as pessoas usavam e o que estava à venda – roupa de mulher, homem, criança. Ele queria encontrar um item que fosse novidade, algo que as pessoas utilizariam que não era vendido nas lojas. Durante mais 4 dias ele andou pelas ruas. No final de tarde do último dia, ele estava a ir para casa, e viu uma dúzia de raparigas a jogar à macaca. Uma das meninas estava a usar um pequeno avental bordado por cima do vestido, com um corte baixo na frente e com um laço a trás, e foi aqui que se lembrou de repente, que durante todos aqueles dias a ver roupa, ele não viu nem uma vez um avental daqueles.
Por volta de 1900 a indústria do vestuário tinha passado quase inteiramente para as mãos dos recém-chegados Europeus do Este. Como diz Borgenicht, os Judeus “morderam com força na terra anfitriã e trabalharam como doidos no que sabiam fazer.”
Ir para Nova Iorque na década de 1890 com um passado em design de vestuário ou costura ou Schnittwaren Handlung, era uma grande rajada de sorte. Era como aparecer em Sillicon Valley em 1986 com 10 mil horas de programação debaixo do braço.
O que Borgenicht estava a tirar dos seus dias de 18 horas de trabalho era uma lição da economia moderna. Ele estava a aprender pesquisa de mercado. Ele estava a aprender manufaturação. Ele estava a aprender a negociar com Yankees imperiosos. Ele estava a aprender a ligar-se à cultura popular de forma a compreender novas tendências da moda. Os imigrantes Irlandeses e Italianos que vinham para Nova Iorque no mesmo período não tinham essa vantagem. Eles não tinham capacidades específicas à economia urbana.
Qualidades do trabalho
Três coisas – autonomia, complexidade e conexão entre esforço e recompensa – são, de acordo com muitas pessoas, as três qualidades que o trabalho precisa para ser satisfatório. Não é o dinheiro que fazemos que nos faz felizes das 9 às 5. É se o nosso trabalho nos preenche ou não.
Trabalho que preencha estes critérios é trabalho que importa. Ser um físico é significante. Assim como ser um empreendedor.
Os Beatles não se esconderam com terror quando lhes disseram que tinham de tocar 8 horas por dia, 7 dias por semana. Eles aproveitaram a oportunidade. Trabalho árduo é uma sentença apenas se não tiver significado.
Médicos judeus e advogados não se tornaram profissionais apesar da sua origem humilde. Eles tornaram-se profissionais por causa da sua origem humilde.
Sucesso não é um ato aleatório. Ele eleva-se de um conjunto previsível e poderoso de circunstâncias e oportunidades.
Não devia ser difícil perceber de onde vem o advogado perfeito. Esse advogado teve de nascer num certo grupo demográfico, de andar nas melhores escolas públicas de Nova Iorque e de ter uma experiência facilitada no mercado de trabalho. É Judeu, claro, e por isso, mantido de fora das antigas firmas de advocacia na baixa da cidade por causa dos seus “antecedentes”. Os pais desta pessoa provavelmente fizeram um trabalho significativo na indústria do vestuário, passando às suas crianças a autonomia, complexidade e conexão entre esforço e recompensa. Andou numa boa escola – não tem de ter sido uma grande escola. Não precisou de ser o aluno mais inteligente da turma, apenas inteligente o suficiente.
Cultura de honra
Aquela região teve uma praga de uma estirpe particularmente virulenta do que os sociólogos chamam de “cultura de honra”. Culturas de honra tendem a ter as suas raízes nas terras altas e outras áreas férteis, como a Sicília ou as regiões montanhosas Bascas de Espanha.
Um pastor tem de se preocupar. Está debaixo de uma constante ameaça de ruína pela perda dos seus animais. Por isso tem de ser agressivo: tem de tornar claro, através das palavras e ações, que não é fraco. Ele tem de estar disposto a lutar contra o mínimo dos ataques à sua reputação – e é isto que uma “cultura de honra” significa. É um mundo onde a reputação de alguém está no centro da sua vivacidade e auto valorização.
Testa o insulto: Jovens do norte dos Estados Unidos reagiram ao incidente com divertimento. Riram dele. Mas os sulistas? Ah, não, ficaram zangadíssimos.
Legados culturais são forças poderosas. Têm raízes profundas e vidas longas. Persistem, de geração em geração, virtualmente intactos, mesmo que as condições económicas, sociais e demográficas que os criaram tenham desaparecido, e têm um papel muito importante na direção de atitudes e comportamentos sem os quais não conseguiríamos dar sentido ao nosso mundo.
Mitigação
Andar de avião é ainda mais seguro se um piloto menos experiente o pilotar, porque significa que o copiloto tem menos receio de falar. Combatendo a mitigação.
É o sucesso nesta guerra contra a mitigação que despoletou o declínio extraordinário de acidentes de aviação em tempos recentes.
Culturas
Hofstede defendia, por exemplo, que culturas podem ser utilmente distinguidas de acordo com quanto esperam que os seus indivíduos tratem deles próprios. Ele chamou desta medida a “escala do individualismo-coletivismo”. O país que pontua mais no extremo do individualismo são os Estados Unidos. Sem surpresa, os Estados Unidos são também o único país industrializado no mundo que não oferece aos cidadãos um cuidado de saúde universal. No lado oposto da escala está Guatemala.
Outra das dimensões de Hofstede é “o evitar da incerteza”. Quanto é que uma cultura aceita ambiguidade? Aqui estão os 5 países que mais “evitam incerteza”, de acordo com a base de dados de Hofstede – isto é, os países que mais contam com regras e planos e que mais se mantêm com os procedimentos independentemente das circunstâncias:
1-Grécia
2-Portugal
3-Guatemala
4-Uruguai
Os 5 no extremo oposto – as culturas que melhor toleram ambiguidade – são:
49-Hong Kong
50-Suécia
51-Dinamarca
52-Jamaica
Pessoas que cultivam arroz trabalharam sempre mais que a maioria de qualquer outro tipo de agricultor.
A China e o Japão nunca desenvolveram esse tipo de sistema feudal opressivo, porque o feudalismo simplesmente não funciona numa economia de arroz. Produzir arroz é demasiado complicado e complexo para um sistema que necessita de coagir e fazer “bullying” aos agricultores para que vão para o campo todas as manhãs.
Previsões
Nós conseguíamos prever precisamente em que ordem terminariam cada país nas Olimpíadas da Matemática sem perguntar uma única questão matemática. A única coisa que tínhamos de fazer era dar-lhes algum tipo de tarefa que medisse o quão dispostos a trabalhar estariam. Aliás, nem sequer tínhamos de lhes dar uma tarefa. Seria possível prever isto simplesmente ao olhar para que culturas nacionais dão mais ênfase ao esforço e trabalho árduo. Por isso, que sítios estão no topo de ambas as listas? A resposta não te devia surpreender: Singapura, Coreia do Sul, Hong Kong e Japão. O que esses cinco têm em comum, claro, é que são todas culturas esculpidas pela tradição da produção de arroz e de trabalho com propósito. São o tipo de sítios onde, durante centenas de anos, pessoas pobres, a escravizar-se nos campos de arroz 3 mil horas ao ano, diziam coisas do tipo “Ninguém que se levante antes de amanhecer 360 dias por ano, falha em deixar a sua própria família rica.”
Oportunidades
Nós olhamos para o jovem Bill Gates e ficamos maravilhados pelo facto do nosso mundo ter permitido um rapaz de 13 anos tornar-se um empreendedor de tanto sucesso. Mas essa é a lição errada. O nosso mundo permitiu a apenas um miúdo de 13 anos ter acesso ilimitado a um terminal partilhado em 1968. Se um milhão de adolescentes tivesse tido a mesma oportunidade, quantas mais Microsofts tínhamos hoje? Para construir um mundo melhor, precisamos de substituir o tecido retalhado das oportunidades de sorte e vantagens arbitrárias que determinam o sucesso – os nascimentos sortudos e os acidentes felizes da história – com uma sociedade que providencie oportunidades para todos. Se o Canadá tivesse uma segunda liga de hóquei para as crianças nascidas na segunda metade do ano, havia hoje duas vezes mais estrelas de hóquei. Agora multiplica esse fluxo repentino de talento por todos os campos e profissões. O mundo podia ser muito mais rico do que o mundo com o qual nos conformamos.
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