As empresas não têm valores ou cultura empresarial. Têm princípios.

Tempo de leitura: 10 minutos

No ano de 2017 convidaram-me para ser o keynote Speaker de uma conferência organizada pela iMatch com a umbrella da Mini chamada NewCo que tem como principal intenção:
NewCo connects people with business on a mission through events, media, and unique partnerships. NewCo identifies, celebrates, and connects the engines of positive change in society.
Decidi levar para esta talk um tema que me tem acompanhado desde o início da criação da Angry Ventures – O que é que a Angry Ventures é?
First things first. Para contextualizar, em 2013 foi quando me surgiu a intenção de criar uma nova organização – a que hoje chamamos de Angry Ventures.
O que é que as pessoas inteligentes fazem quando querem fazer algo mas não sabem o que fazer ou como fazer? Exatamente. Fui ao Google. E perguntei-lhe:
Mas depois pensei para mim. Eu sou mais inteligente do que isso. O que é que as pessoas mais inteligentes fazem? Vão ao Google de igual forma, mas melhoram a pergunta que fazem:
E de repente eu tive o primeiro Aha Moment!. Para criar uma “boa” empresa basta criar uma empresa com uma “Cultura empresarial”. Está aqui a resposta, já sei. Vamos a isso!
Google novamente:
Perfeito. Até nem custa muita. Tenho “dicas” e “passos” – existe muita informação sobre isto. Parece fácil.
Os primeiros links que me apareceram falavam sobre como implementar uma cultura empresarial em 8 ou 6 passos. Aliás, qual acham que foi o link que escolhi? O primeiro ou segundo? Claro que foi o segundo – 6 passos é mais rápido do que fazer 8 passos. Vamos a isso! Mais Google:
Copiei tudo o que havia para copiar e voilà! Criei uma empresa com Cultura Empresarial. Continuei a ler cada vez mais sobre o tema e fiquei sempre deslumbrado com as histórias que me eram contadas. Uau, ter uma cultura empresarial é mesmo o que faz a diferença. Isto da cultura empresarial é a última coca-cola do deserto. Porque é que mais organizações não têm e criam uma?
A questão, como qualquer coisa nova que aprendemos, é que vamos mergulhando nas camadas desse conhecimento e vamos percebendo que, neste caso, algumas coisas não batem certo. Existem pontas soltas que não estão ligadas, como por exemplo, ter sido apenas eu a definir essa cultura empresarial. Vender a ideia de que “tínhamos” uma cultura empresarial. Vender a ideia de que temos uma cultura empresarial.
E de repente, com a releitura de um livro de Simon Sinek, tudo mudou. No Start With Why, Simon refere que “Your company doesn’t have a culture.”.
Entrei em choque. Fock, e agora? Pensava eu que tinha encontrada a última coca-cola do deserto e de repente sou uma fraude? A Angry Ventures é uma fraude? Aquilo que “vendi” não é real? Exatamente.
A verdade é que nós não temos. Nós somos. Não é um objetivo ou regra. É uma consequência. É a diferença do ter e do ser. Primeiro temos de ser, e só depois, por consequência, temos.
“Your company doesn’t have a culture. It is a culture” Simon Sinek
Aha Moment! E agora? O que faço? Onde me agarro?
Novamente por imitação fui fazer o que as pessoas inteligentes fazem. Google:
De repente surge nas pesquisas um denominador comum. Valores. Yes! Boa! O que fiz novamente? Vamos lá copiar:
FM no ano de 2015: Malta, o que afinal a Angry Ventures tem é valores. Eu estive a pesquisar e muitas empresas é o que utilizam para serem “boas organizações”. Vejam estes exemplos:
Também em 2015 fizemos o nosso Angry Book para festejar esta descoberta.
Giro? É. Ideia copiada do Red Book do Facebook.
Última coca-cola do deserto? Melhor. Com esta descoberta sentimo-nos (ou pelo menos, senti-me) como se tivéssemos descoberto a pólvora.
Boa! Já não precisamos de pensar mais sobre o assunto. Temos o Angry Book, podemos dar por encerrado este tópico. Bom trabalho malta!
Wrong.
Porquê? Li isto:
E de repente:
“Companies don’t have values.”
Fock! Fock! Fock! Já tínhamos este assunto encerrado. E agora?
“Companies don’t have values. People do.” Ben Horowitz
E de repente começamos a colocar tudo o que são valores em causa e percebemos que os valores, de facto, não têm qualquer valor. E sim, não são as empresas que tem valores, são as pessoas. E a organização é o conjunto das pessoas.
Mais, a verdade é que os valores não me dizem o que fazer. Não me ajudam a tomar uma decisão e ação. Não me ajudam a tomar uma decisão em caso de impasse. São estáticos. E ninguém quer ser estático. Tudo o que para morre. Tudo o que estanca não cresce.
Mais do que isso, começamos a perceber também que, se precisamos de apregoar, é porque não se nota. E foi isso que fizemos com os valores. Apregoávamos que éramos transparentes, entre outras coisas. A verdade é que apregoar não basta. Temos mesmo que o fazer.
Agora, como é que, por exemplo uma organização de 600 pessoas pode ter um valor como a transparência? Para algumas pessoas, aquele valor pode ser real, mas de certeza que não o é para todas as 600 pessoas. Mais, o que é que é transparência para cada uma das 600 pessoas. Será que é igual? As pessoas podem ter definições diferentes para o mesmo valor. Existiram de certeza pessoas com mais facilidade de animar alguns desses valores do que outras.
Fock. Então se não têm uma cultura empresarial, nem valores, o que é que as organizações têm? O que é que deveriam ter?
Pá, eu tenho dois dedos de testa. Sou inteligente, certo? E o que é que as pessoas inteligentes fazem? Já sabem! Boa! Google:
O Google para esta já não conseguiu ajudar. Nem panda Google algorithm, nem Hummingbird Google algorithm, nem nada.
De repente, em 2016 surge algo novo na minha vida. Através do Luís Martins Simões eu descubro o que são princípios. Princípios fundamentais. Ainda nesse ano, releio os “Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes” de Stephen Covey lançado em 1987, e de repente tudo fica mais claro – pelo menos na minha perceção.
O que são princípios?
Stephen Covey define princípios como faróis, que governam o progresso e a felicidade dos seres humanos, leis naturais que se entrelaçam, que formam o tecido social de todas as comunidades civilizadas da História e abrangem as raízes de cada uma das instituições e famílias que sobreviveram e prosperam.
Por sua vez, Ray Dalio, em 2017, lança um livro muito interessante e faz com que tudo seja o que nunca foi dentro da Angry Ventures, definindo também o que são Princípios:
“Principles are what allow you to live a life consistent with those values. Principles connect your values to your actions.”
O principal catalisador desta constatação foi o Luís Martins Simões. A sua definição é mais forte, na minha opinião, porque se baseia na raiz etimológica da palavra. Principio é o que se faz primeiro e produz resultado. PRINCÍPIO – do Latim principium, “origem, causa próxima, início”, de primus, “o que vem antes”, do Grego prin, de mesmo significado.
Sempre de dentro para fora.

E foi assim que, não querendo descobrir mais pólvora, por consequência descobrimos o que – entre todos – gostaríamos de ser. Gostaríamos de ser o que cada um é – com os valores que cada um anima – e com um conjunto de princípios praticado por todos que nos ajudam a ser aquilo que somos, enquanto grupo. Que fazem com que hoje sejamos o que somos e que, em caso de impasse, utilizamos para continuar o nosso caminho. A ideia não é apregoar. É praticar. Se precisamos de apregoar é porque não se nota.

Podes subscrever a minha newsfeed aqui.
Também poderás gostar de ler: 2 vidas