The Wisdom of No Escape, de Pema Chödrön

Titulo do livro em EN: The Wisdom of No Escape: How To Love Yourself and Your World
Titulo do livro em PT: (não encontrado)
Nome do Autor: Pema Chödrön
A minha pontuação: 4/5
Data da publicação: 1 de janeiro de 1991
Tempo de leitura: 19 minutos

As pessoas muitas vezes pensam que vão melhorar, o que é uma espécie de agressão contra quem são realmente. “Se eu fosse capaz de meditar e me acalmar, seria uma pessoa melhor.”

Desenvolver a nossa curiosidade, sem nos importarmos se aquilo que questionamos é amargo ou doce.

Nós conseguimos resistir a muita dor e prazer pelo bem da descoberta de quem nós somos e do que o mundo é.
Se, no fim de cada dia, alguém te mostrasse um vídeo do que fizeste e pudesses ver tudo, irias envergonhar-te várias vezes. Provavelmente irias reparar que fazes todas as coisas pelas quais criticas e julgas as pessoas de quem não gostas na tua vida. Seres amigo de ti mesmo é, basicamente, seres amigo de todas essas pessoas também, porque quando conseguires ser honesto, gentil, bondoso e claro acerca de quem tu és, não existe obstáculo para não o seres com os outros também.

Um dos maiores obstáculos à clarificação é o ressentimento, o sentimento de ser traído, guardar rancor por quem és, o que és, onde estás.

Não é saudável tentarmos ver-nos livres dos nossos aspetos negativos, porque nesse processo também nos livramos daquilo que nos torna maravilhosos.

Ficarmos mais conscientes de quem somos e do que estamos a fazer em vez de tentar melhorar ou mudar isso.

“Suspeito sempre de quem diz que está tudo a correr bem. Se pensares que está tudo a correr bem, isso é um tipo de arrogância. Se tudo for fácil, acabas por relaxar. Deixas de te esforçar e acabas por nunca descobrir o que significa ser realmente humano.”
Quando começas a pensar que tudo está perfeito e te sentes complacente e superior aos outros, cuidado!

Desde sempre que foste bom, mas sabia que se te dissesse, deixavas de tentar.
Temos de trabalhar da mesma forma connosco.
Três qualidades que podemos nutrir, cultivar e demonstrar: precisão, gentileza e a habilidade de deixar ir.

O segredo para nos sentirmos mais completos e menos desligados é conseguir ver claramente quem somos e o que estamos a fazer.
A meditação tem a ver com a perceção clara do corpo e mente que possuímos, a situação doméstica em que nos encontramos, o trabalho que temos e as pessoas que temos na nossa vida.

O desejo de mudar é, fundamentalmente, uma forma de autoagressão.
Abrir a mente além da caixa e deixar para trás ideias fixas ou horizontes limitados.
Podes estar completamente envolvido numa fantasia, ao lembrar o passado ou a planear o futuro, mas de repente apercebes-te, e voltas à realidade.
Deixar ir esses pensamentos.

Uma das mais incríveis ferramentas que temos à nossa disposição é a habilidade de esquecer as coisas, não ficar preso nos próprios pensamentos.
Ressentimento, amargura e guardar rancor impedem-nos de ver, de ouvir, de provar, de nos deliciarmos.

“Uma mulher a fugir de tigres. Chega à beira de um precipício, desce e agarra-se a uns ramos. Ela percebe que estão tigres em baixo do precipício também. Um rato rói os ramos onde ela está pendurada. Repara que perto dela estão uns morangos a crescer de um pedaço de erva. Pega num, mete-o na boca e desfruta dele em pleno. “Este é, aliás, o dilema que enfrentamos constantemente, no que toca ao nosso nascimento e à nossa morte. Este pode ser o único momento da nossa vida, o único morango que iremos comer.

Os Navajo ensinam as suas crianças a acreditar que de cada vez que o sol nasce, se trata de um sol novo. “O sol vive apenas um dia. Devemos viver cada dia da melhor forma, para que não se desperdice o seu tempo precioso.”

Estás sempre incluído num círculo sagrado. Este espaço não é o círculo sagrado. Gampo Abbey não é o círculo sagrado.

Mantém-te no mesmo “veículo” e vai mais, mais e mais fundo. A vida é um milagre, e muitas vezes só sentimos ressentimento acerca de como as coisas são na nossa vida.
“Tens a certeza de que pretendes atingir esclarecimento?” E a mulher respondeu “Claro que tenho a certeza” Então a senhora sorridente transformou-se num demónio, levantou-se brandindo um grande pau, e perseguiu a mulher enquanto dizia, “Agora! Agora! Agora!” Para o resto da sua vida, a mulher nunca conseguiu fugir daquele demónio que só dizia “Agora!”

O maior obstáculo a uma maior perspetiva sobre a vida é o facto das nossas emoções nos prenderem e cegarem. Quando começamos a irritar-nos ou a precisar de algo de uma forma que nos faz sentir miseráveis, começamo-nos a desligar e afastar.

Um samurai dirige-se ao homem sábio e diz “Diz-me a natureza do inferno e do céu.” E o roshi responde: “Porque haveria eu de responder a um homem nojento, mal-arranjado e miserável como tu?” O samurai começa a ficar roxo de raiva, com os cabelos em pé, mas o roshi continua e diz “Um verme miserável como tu, achas que te devia dizer o que quer que seja?” Consumido pela raiva, o samurai desembainha a espada e prepara-se para cortar a cabeça do roshi até que este diz: “Isso é o inferno.” O samurai, que até é uma pessoa sensível, percebe instantaneamente, que foi ele quem criou o próprio inferno; ele estava no fundo do inferno. Era preto e quente, cheio de ódio, autoproteção, raiva e ressentimento, tanto que estava disposto a matar aquele sábio homem.

O inferno é simplesmente a resistência à vida. Quando queres dizer “não” à situação em que te encontras, não tem problema. Mas quando exageras de tal forma a tua reação que estarias disposto a pegar na tua espada e tirar a vida de alguém, essa resistência à vida é o próprio inferno.

Quando começas a acreditar em algo, deixas de conseguir ver o resto.

Existem guerras pelo mundo inteiro porque muitas pessoas ficam insultadas pelo facto de outras pessoas não concordarem com as suas crenças.

Teísmo Fundamental. Tu precisas de te agarrar a algo, e dizer, “Finalmente encontrei o que procurava. É isto, agora sinto-me completo, seguro e justo.”

“Se te encontrares com o Buddha na rua, mata o Buddha.” (Uma boa gargalhada é a melhor forma de matar o Buddha.)

Olhar para as crenças de alguém, honesta e claramente, e depois passar além delas.
Sentir desconforto faz parte de ser humano. Nem há necessidade de lhe chamar sofrimento.

Resistir à vida causa sofrimento. O cessar do sofrimento é largar o apego que temos a nós próprios.

A nossa nostalgia de querer ficar num mundo protegido, limitado e mesquinho é demente.

Quanto mais selvagem o tempo é, mais os corvos o adoram. Eles desafiam o vento. Eles sobem até ao topo das árvores e agarram-se com as suas garras e com os bicos. Certa altura eles largam-se e deixam que o vento os leve. A seguir brincam ao vento, flutuam. Depois de um bocado voltam à árvore e fazem tudo outra vez. É um jogo.

Muitas vezes somos vítimas de uma educação pouco completa no início, e não percebemos quando é que crescemos. Algumas pessoas, com cinquenta, sessenta ou setenta anos, ainda não sabem o que vão ser quando crescerem. Permanecemos crianças no nosso coração dos corações, que é dizer, fundamentalmente teístas.
A melhor forma de viver é cortar os laços que temos, cortar o cordão umbilical e, sozinhos, começar a viagem que é ser realmente humano, sem necessidade de aceitação dos outros.

Esta nossa recusa em olhar para assuntos por resolver. Se de cada vez que o guerreiro/a encontrar o dragão, disser “Hah! É um dragão outra vez. Impossível enfrentá-lo” e fugir, a vida torna-se uma história recorrente de: levantar de manhã, sair de casa, encontrar o dragão, dizer “impossível” e fugir. Fica-se cada vez tímido.

Se estás sozinho e te sentes só e gostavas de ter alguém, esse pode ser o motivo que te faz acordar; se tens uma família grande e gostavas de ter mais tempo livre, esse pode ser o motivo que te faz acordar. O que quer que tenhas, esse pode ser o motivo. Não há melhor situação senão aquela em que te encontras. Foi feita para ti.

Refugiar-se na irmandade das pessoas empenhadas em tirar a armadura. Se vivermos numa família em que as pessoas se empenham em tirar a própria armadura, temos então uma das melhores ferramentas para aprender a fazê-lo, através do feedback mútuo.

Desenvolve uma completa aceitação e abertura a todas as situações, emoções e pessoas. Uma completa aceitação e abertura a todas as situações, emoções e pessoas, experienciando tudo sem reservas ou entraves, para que não te escondas ou centralizes em ti mesmo.

Sempre a tentar escapar e dessa forma nunca parar para apreciar.

Há duas formas comuns de neurose: Uma é ser abismado por tudo o que acontece e ser, de alguma forma, capturado pelos acontecimentos como se estivéssemos dentro de um remoinho. A preferência pela ocorrência. Estou tão quente que abro as janelas todas, depois fico com frio e visto uma camisola. A camisola faz comichão, meto creme nos braços, fico pegajoso, tomo banho, fico com frio, fecho a janela e faço tudo de novo. Sinto-me só, caso-me, começo a discutir com o meu marido ou mulher, por isso tenho um caso amoroso, o meu marido ou esposa ameaçam deixar-me e eu fico confuso do que fazer a seguir, e por aí fora.

A outra neurose é ser envolvido por paz e sossego, ou libertação, ou liberdade. Experienciamos clareza ou felicidade e queremos que continue. Que continue assim para sempre. Levar a vida de uma forma sossegada, suave e simplificada; acabas por te prender a esse estilo de vida. Resistes e afastas qualquer situação turbulenta.
Samsara na Nirvana
são um só, sem preferência entre a quietude ou a ocorrência, ser capazes de viver em pleno com os dois. Guarda a tristeza e dor de Samsara no teu coração e ao mesmo tempo, o poder e visão do Grande Sol de Este. Só depois o guerreiro pode fazer uma boa chávena de chá.

Se fores capaz de viver com a tristeza da vida humana, se estiveres disposto a sentir realmente e reconhecer continuamente a tua própria tristeza e a tristeza da vida, mas ao mesmo tempo não te deixares afogar por essa tristeza, pelo facto de reconheceres igualmente o poder e a visão do Grande Sol do Este, conseguirás experienciar equilíbrio e plenitude, juntando o céu e a terra, a visão e a utilidade.

O ritual tem a ver com juntar visão e utilidade, o céu e a terra, samsara e nirvana. Quando as coisas são compreendidas de forma correta, a vida de uma pessoa é como um ritual ou uma cerimónia. Rituais que são passados adiante são assim. Alguém pode ter um pensamento ou introspeção e, em vez de se perder esse pensamento, este pode ficar vivo através do ritual. Os ensinamentos de Buddha, são como uma receita para pão acabado de sair do forno. Há milhares de anos alguém descobriu como fazer pão, e pelo facto de a receita ter sido passada de geração em geração, hoje podemos fazer pão e comê-lo.

Existem tantos livros maravilhosos sobre os ensinamentos básicos; podes ler Joseph Goldstein e Ayya Khema e Suzuki Roshi e Chögyam Trungpa e Tarthang Tülku e tidas as traduções de Herbert Guenther.

Nada do que ouviste até hoje é separado da tua vida. Conheceres-te ou estudares-te a ti mesmo é também esqueceres-te, e se te esqueceres de ti ficas iluminado por todas as coisas. O dharma nunca te diz o que é verdade ou mentira. Apenas te encoraja a descobrires por ti mesmo.

“A rotina quotidiana é simplesmente desenvolver uma completa aceitação de todas as situações. Emoções e pessoas.” Isto soa a algo que é verdadeiro e não o fazer seria o falso. Mas não é isso que quer dizer. O que de facto diz é: encoraja-te a descobrir o que é verdadeiro ou falso. Tenta viver desta forma e vê o que acontece.

Clarificação, que significa que possuis uma ideia nova do que é verdade. Alguém ligou todas as luzes e revela um palácio e tu dizes: “Wow! Esteve sempre aqui.”
Partilhar estas visões. É como descobrir algo que mais ninguém sabia, mas é ao mesmo tempo algo simples e direto.

É muito bom saber das coisas intelectualmente, mas como te sentes acerca dessas coisas. Qual a tua verdadeira experiência?

Tu podes saber que o preceito inicial é não matar, mas a pergunta aqui é, quando a vontade de matar algo surge, porque é que queres matar esse algo? O que realmente se passa? E qual seria o benefício em te conteres? O que faz a contenção? O que sentes quando te conténs de fazer algo? O que é que te ensina?

Cada religião, crença filosófica ou grupo da Idade Moderna possui um tipo de sabedoria. Mantém-te no mesmo barco, porque de outra forma, quando sentires dor, vais apenas fugir e procurar outra coisa. Ir às compras é tentar encontrar segurança, tentar sentires-te bem contigo próprio. Quando uma pessoa se mantém no mesmo barco, qualquer que seja, é quando realmente começa a viagem do guerreiro.
A viagem do guerreiro é quase sempre extremamente inconveniente.

Quando te refugias e te tornas budista, há um sentimento de deixar a tua casa e ficares sem abrigo. Deixaste a costa, mas ainda não chegaste a nenhum lado. Não sabes para onde vais e já estás à deriva no mar há tanto tempo que o sítio de onde partiste é apenas uma vaga memória. É tão inconveniente. É muito mais conveniente estar em casa.

Optar pelo conforto, tendo-o como a principal razão da tua existência, torna-se um obstáculo recorrente ao ato de dar um passo em frente, a experimentar algo novo, a fazer algo diferente, como ir para uma terra estranha sendo um estranho.

Quando eu começava a ficar deprimida, eu lembrava-me, “Tenho de arranjar forma de me acordar genuinamente”, porque há muitas pessoas a sofrer desta forma, e se consigo ultrapassar, essas pessoas também.

Se realmente te questionas assim, vais encontrar as respostas em todo o lado. Mas se não tens nada a questionar, de certeza que não há resposta.

Há uma onda que surge e te derruba. Tu levantas-te e recomeças a andar. Depois surge outra que te derruba novamente. As ondas vão continuar a surgir, mas de todas as vezes que és derrubado, levantas-te outra vez e voltas a andar. Depois de um bocado, as ondas vão começar a parecer-te cada vez mais pequenas.

Quando todos os muros desmoronam, quando o casulo desaparece completamente e ficamos totalmente expostos aos acontecimentos, sem nos refugiarmos ou centralizarmos em nós próprios. É isto que devemos tentar alcançar, a viagem do guerreiro.

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